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16/11/2017

 

Ortorexia nervosa: quando alimentação saudável faz mal à saúde
Ortorexia nervosa: quando alimentação saudável faz mal à saúde
De início, o movimento que prega o consumo de alimentos frescos e saudáveis parece um estilo de vida saudável e equilibrado, não é mesmo? Porém, com um olhar mais atento, pode-se perceber que alguns indivíduos que seguem essas novas linhas podem apresentar um desequilíbrio no pensamento e no comportamento. A Organização Mundial da Saúde define saúde como sendo "o estado de completo bem-estar físico, mental e social" e não apenas como ausência de doença. Essa definição é de grande valia para os problemas alimentares que vemos hoje, reflexos da sociedade ambivalente e dividida em polos em que vivemos. Hoje há uma divisão dos alimentos em proibidos versus permitidos, alimentos bons versus alimentos ruins, entre outras definições, o que pode influenciar o comportamento de pessoas que já possuem uma tendência ao comportamento obsessivo. O que é ortorexia nervosa? A ortorexia nervosa é definida como um distúrbio alimentar caracterizado por uma dieta restritiva a alimentos puros, limpos, saudáveis, naturais, livres de agrotóxicos e quaisquer produtos químicos, onde grupos alimentares como grãos, açúcares, produtos de origem animal e geneticamente modificados são excluídos da alimentação. O termo ortorexia nervosa foi criado em 1997 por Steven Bratman, médico americano que descreveu esse transtorno como sendo um novo comportamento alimentar transtornado ¹. Apesar de a motivação ser diferente, tanto os anoréxicos como os ortoréxicos restringem demasiadamente sua alimentação. A diferença é que na ortorexia existe um viés "saudável" que acaba disfarçando e dificulta o diagnóstico da doença. O isolamento faz parte dos sintomas da ortorexia: os indivíduos passam grande parte do dia pensando e planejando sobre alimentação e sentem, em contrapartida, desprezo por aqueles que não conseguem seguir um padrão alimentar "perfeito". Isso contribui para que essas pessoas fiquem cada vez mais isoladas a grupos de pessoas que também possuem características obsessivas e compulsivas por comida ². Indivíduos com personalidade perfeccionista, rigidez, necessidade extrema de controle da vida e fortes crenças ligadas à comida, assim como profissionais da saúde como médicos, nutricionistas e outros, são mais vulneráveis ao transtorno. Uma vez que para manter-se um estilo de vida "orgânico" precisa-se de um poder aquisitivo elevado, as classes menos favorecidas não conseguiriam manter este tipo de alimentação, ficando a ortorexia restrita as classes privilegiadas. Por fim, as mulheres são as mais vulneráveis, pois buscam incessantemente a dieta perfeita. Como saber se tenho ortorexia nervosa? Hoje esse quadro não está descrito no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), o diagnóstico ainda não é algo totalmente definido. No entanto, se formos pensar em como podemos diferenciar alguém com ortorexia nervosa de uma pessoa mais rigorosa com alimentação, o principal sintoma é a "obsessão compulsiva" que essas pessoas possuem em relação a alimentação: ela passa horas pensando no que irá comer, gasta muito tempo fazendo compras e planejando toda a alimentação, passa a se isolar pois se acha "mais preparada, disciplinada, controlada e superior" em relação aos que não seguem a mesma alimentação "pura". Toda a rotina da pessoa é focada em "comer puro, limpo e saudável". Nesse contexto, comer frituras e tomar sorvete são pontos fora de questão, pois certamente esses alimentos não passariam pela "seleção" dessas pessoas, a menos que o sorvete seja feito por eles com alimentos puros, como o de banana madura orgânica congelada batida com cacau 100% orgânico e fritas só se feito em óleo de coco ou outro da moda natureba, com batatas 100% orgânicas e sem ser geneticamente modificadas. As panelas não podem ser antiaderentes e não se usa plásticos para guardar os alimentos. Percebe a obsessão? Como a ortorexia nervosa é tratada? O tratamento deve ser feito por profissionais especializados uma vez que a ortorexia, assim como os demais transtornos alimentares, são doenças psiquiátricas. O melhor tratamento é o multidisciplinar, em que diversos profissionais da saúde devem acompanhar o tratamento. Esses pacientes precisam de acompanhamento altamente especializado devido as possíveis co-morbidades estarem presentes. A melhor prevenção é a mudança no comportamento alimentar, mudança na supervalorização da estética e do corpo perfeito.

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