Mais pessoas morrem na fila de espera para fazer redução de estômago no SUS do que na cirurgia, afir
Mais pessoas morrem na fila de espera para fazer redução de estômago no SUS do que na cirurgia, afir
Dados estimados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica mostram que o
tempo médio na fila de espera para a operação de redução de estômago no Sistema Único de
Saúde (SUS) é de 10 anos e a taxa de mortalidade é de 2,9%. "Ou seja, a estimativa da taxa
de mortalidade na fila de espera é maior do que a da cirurgia que é de 0,14%", afirma Ricardo
Cohen, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCM). As
declarações foram feitas durante o evento "A evolução da cirurgia bariátrica no Brasil e seu
papel no combate à maior epidemia do século XXI", realizado no Johnson & Johnson Medical
Innovation Institute.
Segundo a SBCM e o Ministério da Saúde, no entanto, não é possível ter um número exato.
"Ao contrário dos transplantes em que há estimativas de quantas pessoas estão na fila, não
há um banco de dados para a cirurgia bariátrica e o tempo de espera", relata Iriney Rasera
Júnior, especialista em cirurgia do aparelho digestivo. O Ministério da Saúde explica que o
órgão é responsável por regular e determinar se o hospital pode ser considerado um centro
de excelência no assunto, mas não cobra das instituições dados a respeito da fila de espera
do procedimento, que segundo o Ministério, é de responsabilidade de cada gestor.
Além da longa fila de espera pela operação, Rasera afirma ainda que pacientes que não
residem no mesmo Estado de um das 77 Unidades de Assistência de Alta Complexidade ao
Paciente Portador de Obesidade Grave, não conseguem tratamento pela rede pública de
saúde. "Ele precisa morar em uma região que seja atendida por esses centros. Tem gente que
até se muda e ainda assim precisa esperar por seis meses para comprovar a residência e ser
atendido", afirma Rasera. No entanto, o Ministério da Saúde afirma que, apesar de não
fiscalizar, ninguém deveria ficar sem receber atendimento, pois o SUS prevê tratamento fora
de domicílio e realoca o paciente para a unidade com o serviço necessário para tratá-lo.
A diferença no tratamento do paciente obeso pelo SUS e pela rede privada não se limita
apenas na demora para realizar a cirurgia, mas também na maneira em que o procedimento é
feito. A partir deste ano, todos os planos de saúde contratados de 1999 para cá cobrem a
cirurgia bariátrica por videolaparoscopia. Segundo Rasera, o método é mais indicado por ser
menos invasivo, diminuir o tempo de operação e risco de hérnia. Já a rede pública realiza
apenas a cirurgia bariátrica aberta convencional, em que o médico faz um corte de pelo menos
20 centímetros no abdome do paciente e conta com um tempo de recuperação de 30 a 60
dias, além de maiores chances de infecção hospitalar.
Banalização
Para Almino Ramos, vice-presidente da SBCM e diretor geral da clínica Gastro Obeso Center,
o conforto da cirurgia causa alguns problemas para os médicos. "Antes quando era feito um
corte grande para operar, as pessoas tinham medo e não queriam, mas agora como a cirurgia
ficou menos invasiva e o tempo de recuperação é menor, é comum que as pessoas já tentem
pular para esse caminho", explica Ramos.
Ainda que a cirurgia esteja mais acessível para a população, a não banalização é uma
responsabilidade dos médicos, na opinião de Ramos. "É preciso de médicos bons para não
consentir uma operação em uma pessoa que quer engordar para depois poder passar pela
cirurgia", alerta.