Marca-passo cerebral auxilia tratamento de anorexia nervosa
Cientistas canadenses demonstraram que o implante de um marca-passo cerebral pode ajudar no tratamento de pacientes com anorexia nervosa.
Resultados iniciais mostraram que o tratamento ajuda alguns pacientes a alcançar e manter melhorias do peso corporal, do humor e da ansiedade.
O aparelho, usado há mais de 20 anos para controlar tremores em pacientes com Parkinson, envia impulsos elétricos a regiões do cérebro responsáveis pelo prazer e pela ansiedade.
A pesquisa foi publicada na revista The Lancet.
A estimulação cerebral profunda (DBS) foi testada em seis voluntárias, com idades entre 24 e 57 anos, que tinham a forma crônica da anorexia. Cinco delas já haviam sido internadas em unidades de terapia intensiva e quatro já tinham sido alimentadas por sonda no hospital.
Além da anorexia, todas as pacientes, exceto uma, também sofriam de problemas psiquiátricos, tais como transtorno depressivo maior e transtorno obsessivo-compulsivo. Na época do estudo, todas estavam sofrendo ou já tinham sofrido múltiplas complicações médicas relacionadas à anorexia.
As participantes do estudo foram tratadas com estimulação cerebral profunda, procedimento que modera a atividade dos circuitos cerebrais disfuncionais. Exames de neuroimagem demonstraram que existem diferenças estruturais e funcionais entre os pacientes com anorexia e controles saudáveis nos circuitos do cérebro que regulam o humor, ansiedade, recompensa e percepção corporal.
As pacientes estavam acordadas quando foram submetidas ao procedimento que implantou eletrodos em uma parte específica do cérebro envolvida na emoção, e considerada muito importante em distúrbios como a depressão.
Controlados por um aparelho emissor de pulsos elétricos implantado perto da clavícula, embaixo da pele, como um marca-passo cardíaco, os estimuladores foram direcionados a uma região próxima ao corpo caloso.
Testes com as pacientes foram repetidos com um, três e seis meses de intervalo após a ativação do dispositivo gerador de impulsos.
Após um período de nove meses da cirurgia, a equipe observou que três das seis pacientes tinham alcançado o ganho de peso que foi definido como um índice de massa corporal (IMC) significativamente maior do que nunca experimentado pelas pacientes.
Para essas pacientes, este foi o mais longo período de ganho de peso sustentado desde o início da doença. Além disso, quatro das seis pacientes também apresentaram mudanças simultâneas no humor, ansiedade, controle sobre as respostas emocionais e outros sintomas relacionados à anorexia, como obsessões e compulsões.
"Nós estamos realmente dando início a uma nova era na compreensão do cérebro e do papel que ele pode desempenhar em certas desordens neurológicas. Ao identificar e corrigir os circuitos precisos do cérebro associados com os sintomas de algumas dessas condições, nós estamos encontrando opções adicionais para tratar essas doenças", afirma o pesquisador Andres Lozano.
Segundo os autores, a pesquisa não só pode fornecer uma opção terapêutica adicional para esses pacientes no futuro, mas também promove a compreensão da anorexia e dos fatores que fazem com que ela seja persistente.