Atraso da menstruação pode ser consequência de maus hábitos
O ciclo menstrual dura de 25 a 35 dias em média para a maioria das mulheres, e tende a ser mais desregulado nos primeiros dois anos de menstruação, tempo que demora para ele se corrigir completamente. No entanto, muitas mulheres já experimentaram pequenos atrasos ou até mesmo mudanças constantes de ciclo - que nunca devem ser encaradas como normais. "A primeira suspeita para atrasos na menstruação sempre deve ser a gravidez para casos de mulheres férteis e ativas sexualmente", explica o ginecologista Luciano Pompei, da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo. Excluída essa possibilidade, existe uma série de maus hábitos - e até mesmo doenças - que podem levar ao atraso da menstruação. Confira quais são as suspeitas:
Excesso de atividade física
Praticar exercícios pesados em grande frequência pode não só atrasar a menstruação, como fazer com ela pare completamente por um determinado período. "Isso acontece porque o corpo gasta muita energia com as atividades e, assim, não entra no período fértil", diz a ginecologista Paula Marcovici de São Paulo. A prática de atividade moderada estimula o organismo a liberar endorfina - substância relacionada ao bem-estar que reduz o estresse e ajuda a regularizar a menstruação. Um treino pesado favorece o aumento da prolactina - hormônio que prepara a mulher para a amamentação, provocando falhas na menstruação. "O excesso de atividade física pode levar até à falta da menstruação (amenorreia), que ocorre em 2% a 4% da população feminina geral, mas pode acometer de 3% até 66% das atletas", explica o ginecologista Joji Ueno, do Hospital Sírio Libanês e Diretor na Clínica Gera, em São Paulo.
Dietas muito restritivas
São dois os mecanismos que podem explicar o atraso da menstruação por conta de dietas muito restritivas, afirmam os especialistas. "Se você começa a fazer uma dieta muito restritiva para perder peso, o corpo entende que está havendo alguma dificuldade e corta funções menos vitais para se preservar, como a atividade reprodutiva, buscando os nutrientes que faltam no sangue", explica o ginecologista Luciano Pompei, da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo. Mudanças no ciclo ou mesmo a amenorreia são comuns em mulheres com anorexia nervosa, por exemplo. "As dietas muito restritivas também podem alterar o sistema responsável pelo equilíbrio hormonal reprodutivo, causando diminuição da ovulação e liberação exagerada da progesterona, inibindo a menstruação", afirma o ginecologista Joji. Os hormônios responsáveis pela ovulação são comandados pela hipófise, que por sua vez é orientada pelo hipotálamo - ambas áreas do nosso cérebro.
Estresse
Se você estiver sob um estresse muito grande, seu corpo irá inibir a sua ovulação, pois ele entende que você não está em condições de perpetuar a espécie. "Uma mulher sujeita a um estresse muito grande não irá ovular, e portanto não irá menstruar", explica o ginecologista Luciano. Alguns episódios que podem levar a falta de ovulação são acidentes de carro, mortes na família ou receber uma notícia ruim. "O simples estresse mais prolongado também pode causar alterações na ovulação, mas é mais difícil de medir e identificar, ao contrário dos eventos mais traumáticos", afirma Luciano. "Se a pessoa estiver com graves problemas emocionais, é importante que ela procure um psicólogo para ajudá-la a manter o nervosismo sob controle", afirma a ginecologista Paula.
Ansiedade
O nervosismo causado pela espera de um evento importante ou acontecimento muito esperado também pode levar ao atraso da menstruação. "Essa ansiedade irá afetar o hipotálamo e a hipófise, que mandará mensagens de alerta para o ovário, impedindo a ovulação", diz a ginecologista e obstetra Lucia Marinaro Colon, do Hospital e Maternidade Rede D?Or São Luiz. "O estresse e a ansiedade podem causar a amenorreia hipolâmica, causada por alterações hormonais inclusive do cortisol", explica o ginecologista Joji. "A eliminação do estresse faz a atividade hormonal retornar ao normal."Excesso de peso
A obesidade interfere no ciclo menstrual devido a grande quantidade de gordura nos tecidos. "Os hormônios femininos são metabolizados e armazenados no tecido adiposo", diz a ginecologista Lucia. "O excesso de tecido adiposo pode interferir no funcionamento da hipófise, desregulando o ciclo", completa o ginecologista Luciano. Muitas dessas pessoas com obesidade mórbida com a presença ou não de doenças conjuntas acabam corrigindo esse problema com uma cirurgia bariátrica.
Sono insuficiente
Alterações abruptas do sono, como mudanças repetidas de fuso horário ou insônia, podem causar um desequilíbrio hormonal e alterar o ciclo menstrual, principalmente se a falta de sono estiver acompanhada de estresse e ansiedade. "Essa, no entanto, não é uma das causas mais comuns de alteração do ciclo menstrual, devendo ser investigada após a exclusão de outras possibilidades", declara o ginecologista Luciano.
Alerta para doenças
Se você apresenta alterações constantes no ciclo menstrual - pelo menos três ciclos - e seu teste de gravidez deu negativo, o melhor a fazer é procurar um ginecologista. Problemas na tireoide, ovários policísticos, mioma uterino e endometriose são algumas doenças relacionadas à falta de menstruação. Todas as alterações significativas do ciclo menstrual devem ser comunicadas ao ginecologista "Deve-se ter em mente que toda mulher tem que menstruar normalmente, e se isto não estiver ocorrendo, deve-se diagnosticar a causa", alerta Joji Ueno. "É importante lembrar que a menstruação pode apontar alguma doença, quando apresenta sinais de anormalidade, que vão desde o aumento, diminuição ou aparência do fluxo", completa Lucia Marinaro.