Alergia alimentar está cada vez mais frequente, dizem médicos
Depois daquela comida deliciosa, você sente inchaço nos lábios, língua dormente, coceira na pele ou diarreia e vômito? Cuidado, você pode ter alergia alimentar. Especialistas dizem que o problema está se tornando cada vez mais frequente no mundo todo. Apesar de muitas vezes subestimada, ela é potencialmente fatal e precisa ser investigada.
"A alergia alimentar é uma reposta anormal do organismo a alguma substância presente no alimento", explica o imunologista Luis Eduardo Andrade, do Fleury Medicina e Saúde. Por motivos não conhecidos, o sistema imunológico apresenta uma reação exagerada e inapropriada a algum componente do alimento.
Essa reposta exagerada do sistema imunológico pode causar sintomas que vão desde manchas na pele, inchaço nos lábios e na língua, coceira, rouquidão e vômito até diarreia, dor abdominal, palpitação, queda de pressão e falta de ar. Algumas pessoas podem até mesmo ter choque anafilático, quando ocorre diminuição da pressão arterial e arritmia cardíaca ou obstrução de vias aéreas superiores, e pode levar à morte.
A maioria desses sintomas pode ocorrer até duas horas após o consumo do alimento, mas em casos mais graves a reação é imediata. Pessoas mais sensíveis não precisam nem sequer ingerir o alimento: apenas tocá-lo é o suficiente para desencadear uma reação alérgica (geralmente coceira e aparecimento de manchas na pele).
"No mundo todo, estima-se que 7% das crianças e 3% dos adultos tenham alergia alimentar", afirma o nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia). Mas esse quadro parece estar mudando. Vários estudos vêm apontando que as alergias alimentares estão se tornando mais frequentes. As causas para isso, no entanto, ainda são desconhecidas.
"A razão para este aumento ainda não está totalmente esclarecida. Estudos têm mostrado que as condições ambientais, maior urbanização e os hábitos alimentares atuais podem contribuir para esta facilitação", aponta Ana Paula Moschione Castro, diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (Asbai).
Muitas vezes acontece de as alergias passarem com o tempo: por isso elas são mais comuns entre as crianças do que entre os adultos. Isso ocorre porque algumas pessoas, com o tempo, podem ter um processo de dessensibilização, apresentando uma diminuição dos sintomas. As alergias alimentares mais comuns na infância são ao ovo, leite, amendoim, frutos do mar e soja. Já entre os adultos, é mais frequente a presença de alergia a peixe, amendoim, frutos do mar e frutas secas.
Alergia X intolerância
É muito comum confundir alergia alimentar com intolerância a um determinado alimento. Mas são duas coisas diferentes. Enquanto a alergia é uma reação imunológica contra uma substância presente no alimento, a intolerância é causada pela produção insuficiente ou ausente no organismo de enzimas digestivas.
O exemplo mais comum é a alergia ao leite e a intolerância à lactose. No caso da intolerância, há uma incapacidade do organismo de digerir a lactose, que é o açúcar do leite. Se a pessoa não tem enzimas suficientes para isso, pode sentir gases, distenção abdominal, diarreia e cólicas após a ingestão do leite. Já se a pessoa for alérgica, ela terá uma hipersensibilidade às proteínas presentes em laticínios, e pode apresentar bolinhas vermelhas no corpo, inchaço, coceira, diarreia e vômitos.
"No caso da alergia, as manifestações podem ocorrer no corpo todo, podendo até mesmo haver anafilaxia. Já no caso da intolerância as manifestações são sempre gastrointestinais, sem risco à vida do paciente", explica Castro.
Investigando o problema
Diagnosticar alergia alimentar não é um processo fácil, pois é necessário identificar qual é a substância que causa a reação alérgica. "Eu costumo dizer que o alergista é um verdadeiro detetive, pois ele tem que investigar todo o histórico do paciente e buscar pistas sobre as possíveis origens do quadro alérgico", diz Andrade.
Descobrir o que desencadeia o processo alérgico normalmente leva tempo. Para isso, é necessário analisar a história clínica do paciente, realizar exames laboratoriais, fazer dieta de restrição e, muitas vezes, fazer o teste de provocação oral (quando o médico oferece o alimento em um ambiente controlado e, no caso de ocorrer qualquer problema, observa a manifestação dos sintomas).
Apesar de difícil, esse diagnóstico é necessário para descobrir o que realmente causa a alergia e buscar a melhor forma de lidar com ela. "O que não pode é ficar sem ajuda médica. Sempre que houver uma suspeita de alergia alimentar, é necessário procurar um especialista que possa diagnosticar e auxiliar", afirma Andrade.