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14/02/2014

 

Derrame: ameaça à saúde feminina
Derrame: ameaça à saúde feminina
O AVC é igualmente fatal para ambos os sexos, mas muitos de seus fatores de risco são tipicamente femininos. Diante disso, a Associação Americana do Coração criou uma cartilha direcionada para a prevenção da enfermidade em mulheres A medicina dá cada vez mais atenção às particularidades das doenças cardiovasculares entre mulheres. Em 2007, a Associação Americana do Coração formulou as primeiras diretrizes específicas para prevenir essas enfermidades no sexo feminino — até então, as recomendações eram as mesmas para os dois gêneros. No último mês, um estudo da Universidade Wake Forest, nos Estados Unidos, foi pioneiro ao identificar diferenças nos mecanismos que causam elevação da pressão sanguínea entre os sexos e sugerir que as mulheres recebam um tratamento mais enfático e precoce. Na última quinta-feira, a Associação Americana do Coração deu mais uma contribuição à saúde cardiovascular feminina ao lançar uma cartilha inédita com instruções para diminuir o risco de acidente vascular cerebral (AVC) em mulheres. Até então, documentos relacionados à doença não diziam, por exemplo, que pressão alta durante a gravidez pode levar a complicações capazes de dobrar o risco de AVC ao longo da vida ou que a enxaqueca, mais comum no sexo feminino, também predispõe ao problema. "Essas diretrizes chamam a atenção para uma causa de morte importante entre o sexo feminino. Fala-se muito em câncer de mama, por exemplo, mas é preciso lembrar que doenças cardiovasculares representam um sério risco para as mulheres”, diz Luiz Bortolotto, diretor da Unidade Clínica de Hipertensão do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP (Incor). As doenças cardiovasculares são as principais causas de morte no mundo e no Brasil. Entre as enfermidades do sistema cardiovascular, a mais fatal aos brasileiros de ambos os sexos é o AVC: segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde, cerca de 100 000 pessoas morreram devido à doença em 2011, sendo que praticamente metade delas (49,5%) eram mulheres. O derrame foi causa de quase 10% de todas as mortes femininas naquele ano, e provocou mais do que o triplo de óbitos entre mulheres do que o câncer de mama (49 863 ante 13 225). Leia também: Saiba se você está no novo grupo de risco para doenças do coração Olhar na mulher — Nas últimas décadas, as mulheres passaram a ficar cada vez mais expostas a fatores de risco ao coração que eram mais comuns entre os homens, como stress e tabagismo, aumentando o espaço das pacientes femininas entre o grupo de risco de doenças cardiovasculares. "As mulheres compartilham com os homens muitos fatores de risco ao coração, mas têm outros aspectos que as tornam especialmente vulneráveis", diz Monique Chireau, ginecologista e obstetra da Faculdade de Medicina da Universidade Duke, nos Estados Unidos, que ajudou a desenvolver as diretrizes. Entre esses fatores, estão complicações na gravidez, uso de anticoncepcionais, terapia de reposição hormonal e maior prevalência de enxaqueca e fibrilação atrial. Outro é o tamanho das artérias, menor que o dos homens, o que pode favorecer o estreitamento e obstrução dos vasos. As diretrizes da Associação Americana do Coração, que são seguidas por médicos ao redor do mundo, devem ecoar no Brasil. Por aqui, ainda não existem recomendações específicas para a prevenção de doenças cardiovasculares em mulheres — o que há são capítulos dentro de cada medida para indicar particularidades do sexo feminino. Leia também: Em mulheres, dor no peito não é suficiente para diagnosticar infarto Diferença de gênero — Existe uma fase da vida da mulher em que a probabilidade de ser acometida por moléstias cardiovasculares é, de fato, menor do que a do homem — período que vai até menopausa, quando a produção de estrogênio diminui e, com ele, o efeito protetor do hormônio sobre o coração. "O risco cardiovascular após a menopausa passa a ser semelhante ou até maior do que o dos homens", diz Carlos Costa Magalhães, diretor de Promoção da Saúde Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Das mortes femininas por AVC registradas no Brasil em 2011, mais de 90% ocorreram após os 50 anos de idade. Muitas vezes, essa ameaça pós-menopausa é reflexo de uma série de fatores apresentados por uma mulher ainda na juventude, como pressão alta não tratada ou tabagismo. "O risco cardiovascular entre mulheres jovens não está sendo controlado tão bem quanto deveria. Por isso, as diretrizes estão voltadas principalmente para um período anterior à menopausa", diz Magalhães. Mulheres contra o AVC As diretrizes da Associação Americana do Coração para reduzir o risco de derrame entre mulheres. Segundo a Associação Americana do Coração, 3 em cada 10 000 grávidas sofrem um derrame durante a gestação. Entre mulheres que não estão grávidas, essa prevalência é menor, de 2 em cada 10 000. Para reduzir o risco: Mulheres grávidas devem ter sua pressão arterial controlada. Se a pressão estiver elevada, recomenda-se tratamento com remédios seguros que reduzem a pressão. A pré-eclâmpsia atinge entre 6% e 10% das gestantes e é caracterizada pelo aumento da pressão arterial e perda de proteínas pela urina na fase final da gravidez. Segundo a Associação Americana do Coração, o problema dobra o risco de AVC e quadriplica as chances de hipertensão ao longo da vida. Para reduzir o risco: Mulheres grávidas que se enquadram no grupo de risco devem tomar doses baixas de aspirina a partir do segundo trimestre da gestação. É o médico quem deve recomendar o tratamento.

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