Estatina ajuda no tratamento de esclerose múltipla, diz estudo
Após dois anos de tratamento, remédio usado para o controle do colesterol diminuiu a atrofia do cérebro em 43%
A estatina, medicamento utilizado para o controle dos níveis de colesterol no sangue, também pode ajudar no tratamento de esclerose múltipla, uma doença autoimune, progressiva e incurável. Em um estudo publicado nesta quarta-feira no periódico The Lancet, cientistas administraram altas doses (80 mg) diárias de sinvastatina (tipo de estatina) em pessoas com a enfermidade e após dois anos de tratamento constataram uma diminuição da atrofia do cérebro em 43%.
A esclerose múltipla é uma doença de causas desconhecidas que danifica ou destrói a mielina, uma substância que envolve e protege as fibras nervosas do cérebro, da medula espinal e do nervo óptico. Quando isso acontece, são formadas áreas de cicatrização, ou escleroses, que, em estágios iniciais, podem acarretar em perda da visão e dificuldade de movimento. Depois de dez a quinze anos, mais da metade dos pacientes desenvolve a esclerose múltipla secundária progressiva, um estágio no qual os sintomas se agravam. Até agora, nenhum remédio se mostrou eficiente nessa fase.
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A escolha da estatina pelos estudiosos se deve ao fato de que essa substância tem ação anti-inflamatória e neuroprotetora. Em um primeiro ensaio clínico, os pesquisadores utilizaram a droga em pacientes em estágio inicial de esclerose múltipla. Eles detectaram reduções nas lesões do cérebro. Experimentos posteriores, porém, tiveram resultados conflitantes.
Os cientistas, então, decidiram investigar o potencial do medicamento em fases avançadas da doença. Eles recrutaram 140 pacientes com esclerose múltipla secundária progressiva em idades entre 18 e 65 anos. Durante dois anos, metade dos doentes ingeriu 80 mg de sinvastatina diariamente, enquanto a outra metade tomou placebo.
Foram realizadas ressonâncias magnéticas em todos os participantes no começo e no fim do teste. O cérebro daqueles que tomaram sinvastatina encolheu 43% menos do que o dos voluntários que ingeriram placebo — uma redução de 0,3% ao ano. O remédio foi bem tolerado pelo organismo dos participantes.
"No estágio progressivo da esclerose múltipla, o cérebro encolhe 0,6% por ano. A principal medida de sucesso da pesquisa é a redução dessa atrofia", afirma o líder do estudo, Jeremy Chataway, da University College London Hospitals, da Inglaterra.
Apesar dos bons resultados, Chataway diz que a pesquisa não necessariamente se reverte em uma melhora na condição dos pacientes com esclerose múltipla. Ele sugere que mais estudos de larga escala sejam feitos para confirmar a descoberta.