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09/12/2014

 

Endometriose: dor e infertilidade
Endometriose: dor e infertilidade
Endometriose atinge 10% das mulheres entre 15 e 45 anos. Em todo o mundo, médicos e pacientes buscam alertar as pessoas para a doença que ainda é pouco conhecida. Em mais de 30 países, mulheres, maridos e médicos se uniram para abrir os olhos da sociedade sobre uma doença feminina. Brasília, ao lado de cidades como São Paulo, Vitória, Porto Alegre, Campo Grande e Curitiba, foi uma das 53 capitais do mundo a participar, na semana passada, da primeira marcha mundial de conscientização da endometriose. Na capital do país, a concentração foi na Catedral. A ideia era alertar as pessoas sobre a doença, que, na maioria das vezes, é diagnosticada tardiamente, já que os primeiros sintomas são vistos como naturais pelas mulheres, como as cólicas. Segundo pesquisa feita há dois anos pela Associação Brasileira de Endometriose (SBE), 10% das mulheres com idade entre 15 e 45 anos têm a doença. Segundo estudo da mesma instituição, mais da metade das mulheres não sabiam da existência do problema e mais de 60% desconheciam os sintomas. Embora dois anos tenham se passado desde o estudo, o diretor da SBE, Rui Ferriani, ginecologista e professor de reprodução humana da USP, acredita que o estado de desinformação tem diminuído graças a iniciativas como a da marcha contra endometriose e de campanhas da SBE. Já o ginecologista Carlos Alberto Petta considera o conhecimento sobre a doença ainda pouco, mas reconhece que o Brasil é um dos países com melhores taxas de informações sobre a endometriose, mesmo quando comparado aos mais desenvolvidos. No fim do próximo mês, ocorre o 12º Congresso Mundial de Endometriose, apenas para médicos. Mas Petta acredita que ajude a divulgar um pouco a doença, que afeta tanto a qualidade de vida das mulheres. As cólicas causadas pela endometriose, de tão fortes, chegam a impedir que a paciente fique de pé. Isso sem falar da infertilidade que ela pode causar se não tratada corretamente. *Clique na imagem abaixo para aumentar o tamanho do texto, caso seja necessário. Especialistas recomendam abordagem precoce da endometriose Conhecida também como doença da mulher moderna, é responsável pela infertilidade de seis a cada 10 mulheres. Com o objetivo de elaborar um protocolo que facilite a abordagem da doença, 34 organismos internacionais que se debruçam sobre o tema se encontraram no World Endometrioses Society e elaboraram a primeira Diretriz Mundial sobre Endometriose. Incidência alta, relacionada a 60% dos casos de infertilidade feminina e de difícil diagnóstico – demora-se até dez anos para ser concluído -, a endometriose atinge 15% das mulheres em idade reprodutiva. Cólicas fortes, dor na relação sexual e dificuldade para engravidar são os sintomas principais. A doença acontece quando células do endométrio – tecido que reveste o útero internamente – escapam pela trompa, caem na cavidade abdominal e continuam se reproduzindo no organismo feminino. Não é câncer, é uma enfermidade considerada benigna e não causa morte. Apesar de ser objeto de estudos incessantes, a doença da mulher moderna – como também é conhecida -, não tem suas causas esclarecidas e divide opiniões de especialistas ao redor do mundo. Com o objetivo de elaborar um protocolo que facilite a abordagem da doença, 34 organismos internacionais que se debruçam sobre o tema se encontraram no World Endometrioses Society. O Brasil foi representado pela Sociedade Brasileira de Endometriose. A primeira Diretriz Mundial sobre Endometriose foi publicada na revista especializada Human Reproduction. Ginecologista especialista em endometriose e diretor da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Delzio Bicalho explica que a principal recomendação é a mudança de mentalidade dos médicos e especialistas em saúde da mulher sobre a doença. “O diagnóstico já é uma cirurgia: a laparoscopia trata o problema no momento em que ele é descoberto. Dessa forma, o mais importante é que os médicos consigam perceber os indícios de um quadro clínico que pode desencadear a enfermidade”, afirma. A realidade brasileira é que a população não tem acesso a exames como a laparoscopia e quando se tem um diaganóstico de certeza significa que a paciente já tem dez anos de doença. “Ou seja, o diagnóstico presumido – de acordo com a história da mulher – pode contribuir para que a doença não avance”, explica. O mais importante, segundo Delzio Bicalho, é a abordagem precoce. “Uma adolescente que tem episódios de cólica forte, já perdeu aula ou outros compromissos por causa da dor, deve iniciar um tratamento com pílula anticoncepcional, seja ela cíclica ou contínua. Além de aliviar a dor, o medicamento atrofia a espessura do endométrio, o fluxo menstrual fica menor e diminui também a chance de células caírem na cavidade abdominal”, diz. Essa diretriz pode ser adotada inclusive em centros de saúde, pois, de acordo com o ginecologista, já que os medicamentos têm baixo custo e alto perfil de segurança. Outra diretriz é sobre o tratamento. “Em casos de endometriose leve – são quatro níveis – a laparoscopia melhora a fertilidade para a paciente tentar engravidar naturalmente. Se vai fazer a fertilização, essa cirurgia não influencia o resultado”, pontua. “Quanto mais tardio se dá o diagnóstico, mais difícil é o tratamento”, informa o ginecologista. O especialista afirma que a gravidez da paciente que teve endometriose tem um risco aumentado de complicação obstétrica como a eclâmpsia ou trombose. A ciência está em busca de um marcador sanguíneo para o diagnóstico da doença, assim como exames de imagem que consigam diagnosticá-la. “Já existem algumas ressonâncias magnéticas que dão a suspeita de diagnóstico”, diz. Os estudiosos trabalham com algumas teorias para a origem da doença, todas sem comprovação. Uma delas é a comportamental. “No tempo de nossas avós, com 22 anos elas já estavam casadas, com quatro ou cinco filhos. A gravidez é a melhor abordagem para a endometriose, pois a mulher fica quase dois anos sem menstruar (a gravidez em si e o período da amamentação). Hoje em dia, a mulher com 35 anos ainda não teve filhos. Esse adiamento da gravidez faz com que a mulher menstrue muitas vezes e por muito tempo. Quantas vezes não teve essa menstruação retrógrada (que volta pela trompa)?”, exemplifica. Moléculas ligadas à endometriose grave são identificadas Resultados de estudo publicado em fevereiro sinalizam um primeiro passo em direção a novas intervenções terapêuticas, levando, inclusive, à possibilidade de terapias personalizadas. Pesquisadores estimam que 10% das mulheres sofram com a endometriose, uma doença de origem desconhecida e que causa dores insuportáveis e infertilidade, dependendo da gravidade. Tanto mistério sobre a origem do problema faz com que os tratamentos se limitem a duas opções: terapia hormonal e, nos casos mais avançados, cirurgia. Resultados de estudo publicado na revista Science Translational Medicine, porém, sinalizam um primeiro passo em direção a novas intervenções terapêuticas, levando, inclusive, à possibilidade de terapias personalizadas. O endométrio reveste a parede interna do útero e é uma das regiões do sistema reprodutor feminino mais afetadas pelas alterações no ciclo menstrual. Lá, o óvulo se aloja após a fertilização e, caso a mulher não engravide, parte dessa mucosa sai durante a menstruação. Mas isso não ocorre com quem tem a endometriose. Em vez de serem eliminadas, as células seguem para os ovários ou a cavidade abdominal, onde se depositam. As duas possibilidades mais fortes para a ocorrência do problema são a de um refluxo do sangue pelas trompas. A doença também se caracteriza pela inflamação aguda no sistema reprodutor. Por isso, muitas moléculas que participam desse processo inflamatório têm sido estudadas, uma de cada vez ou em grupos de tamanho limitado. Os cientistas tentam, com isso, identificar marcadores que caracterizem a endometriose de forma mais precisa. Pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (EUA), no entanto, apostaram na investigação de um grupo maior de fatores inflamatórios do endométrio, todos ao mesmo tempo. Para isso, mediram as concentrações de 50 moléculas presentes no fluido abdominal de 77 pacientes. Mesmo sabendo que cada mulher sofreria com um estágio diferente da doença, os pesquisadores preferiram não separá-las nos níveis 1, 2, 3 e 4 de gravidade, como os médicos costumam fazer. “Preferimos uma análise multivariada, em que identificamos conjuntos de moléculas em vez de pacientes, independentemente do grau de doença de cada uma delas”, explicou Linda Griffith, uma das autoras da pesquisa. Durante as análises, os cientistas perceberam que um grupo de mulheres, aquelas que sentiam mais dores e precisavam ser submetidas a intervenção cirúrgica, tinha um conjunto de 12 moléculas que se modificava em um processo em cadeia. Ou seja, o comportamento de uma dependia sempre do da outra. Essa relação, segundo Linda, é orquestrada pelos macrófagos, células ligadas à defesa do organismo. “Os colocamos em cultura e descobrimos que eles secretavam substâncias semelhantes. Depois, testamos diversas drogas e descobrimos que os inibidores de quinase reduziam substancialmente essa produção, o que nunca foi visto antes”, disse a pesquisadora. De acordo com Linda Griffith, a análise multivariada de redes inflamatórias permitiu identificação de subgrupos de pacientes mais graves. “E também em quais mulheres os tratamentos hormonais não têm eficácia”, completa. Dor amenizada O ginecologista e obstetra Jurandir Passos, explica que as quinases são enzimas envolvidas em diversos processos inflamatórios. “Esses pesquisadores descobriram que, quando utilizam os inibidores de quinase, é possível impedir a produção dessas substâncias inflamatórias. Assim, pode-se acabar com a dor sofrida pelas pacientes”, diz. O especialista ressalta que o tratamento proposto é para amenizar os sintomas da endometriose, não para curar o problema. Segundo Passos, ainda é cedo para apostar em um novo tratamento, ainda que a pesquisa tenha aberto o caminho no desenvolvimento de novas possibilidades de intervenção. “Os pesquisadores, além de proporem uma maneira diferente de classificar as pacientes, sugerem outro tipo de tratamento. É um estudo sério e muito promissor, mas ainda precisamos aguardar mais pesquisas com um grupo maior de mulheres para realmente afirmarmos alguma coisa”, pondera.

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