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21/10/2015

 

Os vírus, bactérias e até células de outros humanos que podem habitar nosso corpo
Os vírus, bactérias e até células de outros humanos que podem habitar nosso corpo
O problema é que essa história tão simples agora se tornou bem mais complicada. Além dos genes que herdamos de nossos pais, somos também formados por um mosaico de vírus, bactérias – e potencialmente células de outros seres humanos. Gêmeos, aliás, têm uma chance particularmente alta de carregar pedaços do irmão no corpo e no cérebro. E o mais espantoso é que essas partes podem influenciar no comportamento de cada indivíduo. "O ser humano não é um indivíduo unitário, mas sim um superorganismo", define Peter Kramer, da Universidade de Pádua, na Itália. "Um enorme número de indivíduos humanos e não humanos estão incessantemente lutando dentro de nós para assumir o controle." Kramer publicou um artigo recentemente na revista Perspectives in Psychological Science, no qual pede para psicólogos e psiquiatras passarem a dar mais atenção às maneiras como esse fato influencia o nosso comportamento.Pode parecer alarmante, mas há muito tempo cientistas sabem que nossos corpos são, na realidade, uma mistura de muitos organismos diferentes. Os micróbios que vivem em nossos intestinos podem produzir neurotransmissores que alteram nosso humor. Alguns pesquisadores até levantaram a hipótese de esses microrganismos terem a capacidade de alterar o apetite de seu hospedeiro, de maneira a fazê-lo comer aquilo de que eles têm vontade. Já o parasita Toxoplasma gondii pode simplesmente levar um homem à morte ao manipular seus pensamentos. Na natureza, esse micróbio modifica os cérebros das ratazanas de maneira a fazê-los se atraírem por gatos, que por sua vez oferecem o ambiente ideal para a reprodução do parasita. Mas, ao infectar um ser humano, o micróbio parece transformar seu comportamento, aumentando as chances de o indivíduo sofrer de esquizofrenia ou depressão suicida. Atualmente, cerca de 30% da carne vendida na Grã-Bretanha carrega esse parasita, apesar do fato de essa infecção contribuir para doenças mentais. "Precisamos acabar com isso", conclui Kramer. Irmãos infiltrados Diante disso, está claro que nossos atos não são inteiramente nossos. Mas essa é uma informação suficiente para nos fazer questionar nosso sentido de identidade. A ideia de uma infiltração se torna ainda mais arrepiante quando percebemos que nosso cérebro não é invadido apenas por pequenos micróbios, mas também por outros seres humanos. O exemplo mais visível disso seria um caso de gêmeos siameses unidos pelo cérebro, segundo Kramer. Mas até mesmo gêmeos comuns podem compartilhar órgãos sem perceber. Durante a primeira fase do desenvolvimento dos embriões, células podem ser transportadas de um gêmeo para outro. Antes acreditávamos que isso seria uma ocorrência rara. Mas a realidade é que se trata de algo surpreendentemente comum. Cerca de 8% de gêmeos bivitelinos e 21% de trigêmeos pertencem a dois grupos sanguíneos: um produzido por suas próprias células e outro produzido por células "alienígenas" absorvidas do irmão. Em outras palavras, esses indivíduos são quimeras – uma fusão de dois corpos, que pode acontecer em vários órgãos, inclusive o cérebro. Um cérebro com essa combinação pode apresentar graves consequências. Já sabemos, por exemplo, que o arranjo de diferentes regiões do cérebro pode ser crucial para seu funcionamento. Mas a presença de um tecido externo, comandado por genes que carregam uma marca diferente, pode bagunçar esse design intrínseco. Isso pode explicar por que gêmeos têm menos tendência a serem destros - característica simples que normalmente depende da relativa organização entre os hemisférios cerebrais e que pode ser afetada pela fusão dos genes. Mesmo que você saiba que nunca teve um irmão gêmeo, há outras maneiras de ter o corpo invadido pelas células de outro ser humano. Uma possibilidade é ter começado a vida como dois fetos no útero que depois foram fundidos em um só, durante a primeira fase do desenvolvimento do embrião. Como isso ocorre muito cedo, as células podem acabar sendo incorporadas ao tecido e parecer se desenvolver normalmente, mas estão carregando a marca genética de outra pessoa. "Você é uma pessoa, mas tem células de outra. É como se você sempre tivesse sido duas pessoas", afirma Kramer. Em um caso extremamente raro, uma mulher descobriu que ela não era a mãe biológica de seus filhos. Foram as células de um irmão mais velho que permaneceram no organismo da mãe e encontraram seu caminho na nova criança depois de concebida. De filho para mãe Independentemente de como isso ocorre, é perfeitamente plausível que o tecido de outro ser humano induza o cérebro a se desenvolver de maneiras inesperadas, segundo Lee Nelson, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Ela atualmente estuda se as células de uma mãe podem ser implantadas no cérebro do bebê. "Uma diferença na quantidade, tipo de células e momento em que elas são adquiridas poderia resultar em anormalidades", afirma a cientista. Nelson descobriu que mesmo um adulto não está imune a "invasores" humanos. Há poucos anos, ela e William Chan, da Universidade de Alberta, no Canadá, retiraram fatias do tecido cerebral de uma mulher e analisaram seu genoma em busca de sinais do cromossomo Y. Eles descobriram que 63% desse tecido hospedava células masculinas. Segundo Chan, o cérebro dela estava salpicado de células vindas do corpo de um homem. Uma conclusão lógica seria que, de alguma maneira, as células-tronco do filho que ela gerou atravessaram a placenta e se alojaram em seu cérebro. Alguns pesquisadores estão começando a investigar se essas células poderiam influenciar o comportamento de uma mulher durante a gravidez. Nosso conhecimento sobre o "superorganismo" humano ainda está engatinhando. Portanto, muitas das teorias ainda estão para serem comprovadas. Os cientistas ressaltam, no entanto, que não devemos hostilizar esses "invasores" – afinal, eles são parte do que cada um de nós é hoje.

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